Edição nº 228
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Bem e mal se enfrentam
Já discuti esse assunto aqui, mas vale a pena contar de novo estas duas histórias que se contradizem. Desde sua origem a raça humana está condenada a mover-se na eterna divisão entre os dois opostos. Aqui estamos nós, com as mesmas dúvidas dos nossos antepassados, e sem nenhuma resposta mais original a respeito.
Pérsia: o homem como aliado do bem
A primeira história que se tem notícia sobre a divisão entre Bem e Mal nasce na antiga Pérsia: o Deus do tempo, depois de haver criado o universo, dá-se conta da harmonia a sua volta, mas sente que falta algo muito importante – uma companhia com quem desfrutar toda aquela beleza.
Durante mil anos, ele reza para conseguir ter um filho. A história não diz para quem ele pede algo, já que é todo poderoso senhor único e supremo; mesmo assim ele reza, e termina engravidando.
Ao perceber que conseguiu o que queria, o Deus do tempo fica arrependido; afinal, terminou por acostumar-se à harmonia. Mas é tarde demais; tudo que ele consegue com seu pranto, é fazer com que o filho que trazia no ventre se divida em dois.
Conta a lenda que da oração do Deus do tempo nasce o Bem (Ormuz), do seu arrependimento nasce o Mal (Arimã) – irmãos gêmeos.
Preocupado, ele arranja tudo para que Ormuz saia primeiro do seu ventre, controlando o seu irmão, e evitando que Arimã cause problemas ao universo. Entretanto, como o Mal é esperto e capaz, consegue empurrar Ormuz na hora do parto, e nasce primeiro.
Desolado, o Deus do tempo resolve criar companheiros para Ormuz: faz nascer a raça humana, que lutará com ele para dominar Arimã, e evitar que o Mal tome conta de tudo. Na lenda persa a raça humana nasce como aliada do Bem, e segundo a tradição, irá vencer no final.
Outra história sobre a Divisão, entretanto, surge muitos séculos depois, desta vez com uma versão oposta: o homem como instrumento do Mal.
Bíblia: a divisão traz a dor e o sofrimento
Penso que a maioria sabe do que estou falando: um homem e uma mulher estão no jardim do Paraíso, gozando todas as delícias que possam imaginar. Só existe uma única proibição – o casal jamais pode conhecer o que significa Bem e Mal. Diz o Senhor Todo Poderoso (Gen: 17): “da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás”.
E um belo dia surge a serpente, garantindo que este conhecimento era mais importante que o próprio paraíso, e eles deviam possuí-lo. A mulher recusa-se, dizendo que Deus a ameaçou de morte, mas a serpente garante que não acontecerá nada disso: muito pelo contrário, no dia em que souberem o que é Bem e Mal, serão iguais a Deus.
Convencida, Eva come o fruto proibido, e dá parte dele à Adão. A partir daí, o equilíbrio original do paraíso é desfeito, e os dois são expulsos e amaldiçoados.
Na tradição bíblica, a raça humana é cúmplice do mal que se espalha sobre o planeta.
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